sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

"Tira-me o pão...
Se quiseres, tira-me o ar! Mas não me tires o teu riso.
Não me tires a rosa, a lança que desfolhas, a água que de subito brota da tua alegria, a repentina onda de prata que em ti nasce.
A minha luta é dura e regresso com os olhos cansados, às vezes, por ver que a terra não muda...mas ao entrar, teu riso sobe ao céu a procurar-me e abre-me todas as portas da vida!
Meu amor, nos momentos mais escuros solta o teu riso e se, de subito, vires que o meu sangue mancha as pedras da rua, ri...porque o teu riso será para as minhas mãos como uma espada fresca.
À beira do mar, no outono, teu riso deve erguer sua cascata de espuma, e na primavera, amor, quero teu riso como a flor que esperava, a flor azul, a rosa da minha patria sonora. Ri-te da noite, do dia, da lua, ri-te das ruas tortas da ilha, ri-te deste grosseiro rapaz que te ama...
Mas quando abro os olhos e os fecho, quando meus passos vão, quando voltam meus passos, nega-me o pão, o ar, a luz, a primavera, mas nunca o teu riso, porque então morreria!"

PABLO NERUDA

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